Deitada na cama no escuro, com os pés juntos, fortes e firmes
penso a próxima situação que os braços teriam essa condição.
Olho a veneziana aberta, no escuro da noite e
do quarto, vejo um pinheiro muito alto e frondoso ao longe. Ouço um pássaro
que faz barulho de pato, me sinto acalentada por meu pai.
Olho por muito tempo
sem pensar em nada, apenas na harmonia de ser uma pessoa de inverno.
Ao mesmo tempo
que os calores dos que se encontram facilitam as pessoas de verão, estou ali frustrada por
querer mudar minha natureza e transito por entre os livros bobos pela madrugada.
O peso do corpo já é o suficiente mas os pesares do psicológico são invitáveis. Armo arapucas, dou leitura do que não há, encerro o que me é próprio e, portanto, ler seja a mais inútil
necessidade para continuar neste ciclo até a exaustão e dormir.
Mas sempre há o
dia seguinte, enquanto ele não chega, estou na madrugada existencial.
Minha
porta se abre, entra minha mãe com um rosto pálido e olhos minúsculos; doida de
pedra nada quebra seu barato: fala que viu o farol do meu carro que eu havia
saído, solto uma gargalhada pelo surto de sua afirmação, que não era real. Perdurou
até o amanhecer quando recobramos os parafusos em queda livre.
Estou em falta com meu espaço, com minha diversidade de itens.
No quarto tudo acumulado, trocas de roupa na cadeira, bolsas
e sacolas embaixo da penteadeira, prospectos de teatro, receitas, cadernos,
livros de colorir na mesa de trabalho, faixas de cabelos, caixas porta treco e
os treco fora dela em cima da penteadeira junto de meus objetos decorativos.
Puxa aqui uma coisa e você se vê a voltas refazendo a bagunça, decidi jogar o
lixo no lixo.
Alguma lógica que exclui, desapega faz olhar suas coisas com mais
serventia e portanto a lógica funciona.
Tudo vai para o lugar e o pertencimento
móvel ganha autonomia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário