O homem ordinário queimou o jornal, as
notícias não mais alteravam seu humor.
O que achava era seu julgamento que não
sairia na imprensa, apenas sua venalidade exposta no sofá de sua
casa.
Pegou ônibus para trabalhar, andava 7
km até o ponto, a tarifa contava em moedas, porque o dia de
amanhã ninguém sabe e o bilhete único era coisa de certeza.
Mantinha um celular que não era
smartphone, para continuar conversas mesmo que desagradáveis com
outros que o sugavam ou ele os submetia ao humor do dia.
O sol, a chuva, as estações não
interferiam na sua empatia e sim a preocupação com os mais próximos
que vinham de fato a seu encontro ou propriamente a distância que o
preocupava.
Não tinha hora vaga, sua cabeça era
um escritório e seu corpo um capataz nem mais do desejo.
Aliás seu corpo tinha todos os
sentidos em bom estado, apesar do cansaço permanente.
Se alimentava para quando satisfeito,
gozar, às vezes não se alimentava para atravessar dificuldade
espiritual.
Mas no balanço da carne e de Deus,
ficou saudável.
Sempre quis ser extraordinário na
carreira da vida, esperou para ser agraciado por muitos, mas ouviu
sua própria voz e sempre criticou em algum grau os que estavam nas luzes da ribalta.
Nunca se escondeu, mesmo no escuro
ouviu muitos pensamentos, no claro fez jornada de trabalho.
Mesmo julgado, por quem ama deu
resposta por quem ignora ficou calado.
Da missa não sabem a metade, seu
segredo está guardado.