terça-feira, 1 de setembro de 2015

o homem ordinário que guardou um segredo


O homem ordinário queimou o jornal, as notícias não mais alteravam seu humor.
O que achava era seu julgamento que não sairia na imprensa, apenas sua venalidade exposta no sofá de sua casa.
Pegou ônibus para trabalhar, andava 7 km até o ponto, a tarifa contava em moedas, porque o dia de amanhã ninguém sabe e o bilhete único era coisa de certeza.
Mantinha um celular que não era smartphone, para continuar conversas mesmo que desagradáveis com outros que o sugavam ou ele os submetia ao humor do dia.
O sol, a chuva, as estações não interferiam na sua empatia e sim a preocupação com os mais próximos que vinham de fato a seu encontro ou propriamente a distância que o preocupava.
Não tinha hora vaga, sua cabeça era um escritório e seu corpo um capataz nem mais do desejo.
Aliás seu corpo tinha todos os sentidos em bom estado, apesar do cansaço permanente.
Se alimentava para quando satisfeito, gozar, às vezes não se alimentava para atravessar dificuldade espiritual.
Mas no balanço da carne e de Deus, ficou saudável.
Sempre quis ser extraordinário na carreira da vida, esperou para ser agraciado por muitos, mas ouviu sua própria voz e sempre criticou em algum grau os que estavam nas luzes da ribalta.
Nunca se escondeu, mesmo no escuro ouviu muitos pensamentos, no claro fez jornada de trabalho.
Mesmo julgado, por quem ama deu resposta por quem ignora ficou calado.
Da missa não sabem a metade, seu segredo está guardado.