Depois de muito percorrer por uma
estrada de terra em boas condições mas com o iminente perigo de a
qualquer momento um buraco fisgar o veículo e perfurar o filtro do
óleo.
O sol desaparece no horizonte em muitas
cores, a copa das árvores formam uma silhueta do crepúsculo. Os
cachorros andam em duplas, um de grande porte se aproxima do pneu do
carro como um vampiro sedento por uma presa de barrocha que satisfaz
seu prazer de brincar, uma dentada de lobisomem que contagia um
hábito peculiar, mas segue com outro cachorro. Outras duplas de
cachorros mais a frente, andam juntos na réstia de dia, momento de
coito e reprodução de feras amaldiçoadas..
Nesta transição para noite, a atenção
volta ao cruzar qualquer elemento em cima de uma moto com suas capas
e roupas sem corpo dentro prontos para lançar um feitiço ou algum
carro que surge de vias não preferenciais para desencaminhar meu
destino.
Qualquer assalto está previsto no
músculo firme que segura a direção.
No poente, vê-se figuras que perseguem
alguma concentração de pessoas.
Zumbis baladeiros a procura de
substâncias que tiram o juízo.
Um pastor evangélico viciado, passos
com propósito de uma fé terrena de encontrar algum conforto entre
tantas lamentações e ofício das palavras do Senhor, sobrecarrega
sua memória, seu começo e seu fim e quer despistar no sábado à
noite.
Na trilha do assombro vejo um fantasma
de paletó que não reage a poeira que o carro lança, não tem rosto
e nem expressão, apenas uma negritude já no escuro da noite.
Ao chegar na rodovia deserta sem luz de
outros veículos, avisto com meu farol galhos caídos e após
percorrer um trecho aparece uma bruxa estática no asfalto de cabelos
brancos, baixa estatura, expressão presente mas sem percepção.
O que é estranho e causa mistério é
o que não é registrado por alguém que não preserva a vida dentro
do acostamento, sem atenção à minha passagem colado ao seu lado,
seria mortal?
Em um ponto está parado um ônibus,
seu motor superou um incêndio mas a carcaça permanece.
Um sujeito vestido de vermelho dá uma
cambalhota para sinalizar sua entrada, enquanto trigêmeas
ressucitadas brincam em seus vestidos translúcidos pela luz do meu
farol e pegam o ônibus de almas para reencarnarem longe deste
inóspito e espantado lugar.