segunda-feira, 10 de agosto de 2015

estrada do assombro



Depois de muito percorrer por uma estrada de terra em boas condições mas com o iminente perigo de a qualquer momento um buraco fisgar o veículo e perfurar o filtro do óleo.
O sol desaparece no horizonte em muitas cores, a copa das árvores formam uma silhueta do crepúsculo. Os cachorros andam em duplas, um de grande porte se aproxima do pneu do carro como um vampiro sedento por uma presa de barrocha que satisfaz seu prazer de brincar, uma dentada de lobisomem que contagia um hábito peculiar, mas segue com outro cachorro. Outras duplas de cachorros mais a frente, andam juntos na réstia de dia, momento de coito e reprodução de feras amaldiçoadas..
Nesta transição para noite, a atenção volta ao cruzar qualquer elemento em cima de uma moto com suas capas e roupas sem corpo dentro prontos para lançar um feitiço ou algum carro que surge de vias não preferenciais para desencaminhar meu destino.
Qualquer assalto está previsto no músculo firme que segura a direção.
No poente, vê-se figuras que perseguem alguma concentração de pessoas.
Zumbis baladeiros a procura de substâncias que tiram o juízo.
Um pastor evangélico viciado, passos com propósito de uma fé terrena de encontrar algum conforto entre tantas lamentações e ofício das palavras do Senhor, sobrecarrega sua memória, seu começo e seu fim e quer despistar no sábado à noite.
Na trilha do assombro vejo um fantasma de paletó que não reage a poeira que o carro lança, não tem rosto e nem expressão, apenas uma negritude já no escuro da noite.
Ao chegar na rodovia deserta sem luz de outros veículos, avisto com meu farol galhos caídos e após percorrer um trecho aparece uma bruxa estática no asfalto de cabelos brancos, baixa estatura, expressão presente mas sem percepção.
O que é estranho e causa mistério é o que não é registrado por alguém que não preserva a vida dentro do acostamento, sem atenção à minha passagem colado ao seu lado, seria mortal?
Em um ponto está parado um ônibus, seu motor superou um incêndio mas a carcaça permanece.
Um sujeito vestido de vermelho dá uma cambalhota para sinalizar sua entrada, enquanto trigêmeas ressucitadas brincam em seus vestidos translúcidos pela luz do meu farol e pegam o ônibus de almas para reencarnarem longe deste inóspito e espantado lugar.