quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Artes do Corpo - 2003


Uma alegria desprende após as aulas de teatro, incluso dança, ritmo, gesto e troca.
Desemboquei no curso universitário, sem dúvida e direções festivas, o improvável. Constituída de muita coragem e uma pitada de excentricidade, menina, recém formada na escola, raspei o cabelo.
Família arroz com feijão de ousados experimentos; acender um cigarro no jantar em restaurante na área de fumantes, aos 18 anos, era minha emancipação.
Apoio incontestável e desvairado no ingresso do curso superior, inédito na universidade com apenas uma turma formada e incerteza de colocação profissional para as habilitações que oferecia.
Formada no diálogo, estrutura de pensamento e falhas. 
Matriculei-me após pegar uma fila, momento este da inscrição dos aprovados, um vestibular sem concorrência e pouca divulgação, do curso de ementa curiosa. Ali, acompanhada do meu pai, na fila, pessoas vestidas coloridas, confortáveis, despojadas formavam um seleto grupo de malucos conscientes. Um sujeito alonga as pernas e essas vinham na altura do topo de sua cabeça, invejável habilidade de um bailarino; figura excepcional.
Anda acompanhado de um caderno de espiral, pequeno, onde anota constantemente extração de falas proferida pelo professor.  Aulas teóricas e práticas, teóricas práticas e práticas teóricas, rico estar. Espontâneo, trabalho, preciso e complexidade desembarcada.
Invejava o conteúdo selecionado no caderno de anotações do bailarino. Era um estranho que abria meus olhos para a experiência de vida de seu universo distante do meu habitual mundo decorrido da escola.
Enquanto tudo era novidade, na sala de aula os costumes do mundo privado da Roma Antiga,  ao contrário do que tinha ideia de berço de civilização, o perturbador Nietzsche, alertados pela professora Yolanda a não elegermos  a seguir como sábio.
O bailarino virtuoso tinha uma visão superada dos meus primeiros passos, de quem já leu, mastigou, digeriu e organizou o pensamento. Fazer grupo com ele no tema do corpo na filosofia, não havia esforço mínimo, seu desdobramento na emissão da opinião era para mim um pseudo-fingimento compreender.
 Não expressava meus entendimentos por estar presa ao primeiro contato, na literalidade do autor com a problematização da professora e a resposta dentro da grade. Não aquele múltiplo de persona, que a expressão vem de prontidão conforme sua face de artista. Outros colegas exerciam fascínio no comportamento, dissecados como nas aulas de anatomia, revelavam particularidades: tatuagem, piercing, vestimenta, grupos, histórico familiar, sexualidade, caso entre aluno, admiração por professores, gosto musical, jogos, drogas, viagens.
Com alguns havia empatia, mas o ambiente era tão diverso que não me prendi a nenhum nicho, se é que existem. Passava por entre os tipos e desprendia em mim uma identificação  fugidia. Me modificava a cada dia por influência.
Não pertencia nem a um nem a outro, nesse tanto, negava tudo que constituía o reduto familiar edificando um forte solitário.
Com a instrução da academia, o conhecimento se fundia aos problemas familiares, em análises e sínteses, entre as teorias e práticas. Tinha facilidade em aprender, até hoje meus conhecimentos mais valiosos devo à educação anticonvencional que obtive.
Todos era poiesis, havia expressão dentro e fora das salas, como tomar banho de chuva na torrente permitido pelo professor ou sentar-se em círculo e questionar, por que usamos roupas?
Do meu jeito sem preconceito e um bocado estreito, não tinha cartão de visita, mas circulei entre todos extraio daquele espaço as diferenças.
A paródia veio muito tempo depois, havia em mim um respeito absoluto pelo estabelecido, mas a chacota, da Xuxa, seria maravilhoso. Entender imediatamente o escárnio, da mídia, dos outros e de si próprio é o que estabelece.
No começo, experimentei meu corpo, ossos, articulações e musculatura enquanto que a exposição da experiência e conhecimento chegaria e chegou.
Vi moça beber sangue de sua menstruação, menina amamentar mulher, mulher nua com galo, pintar o corpo com batom e enfiar perna de boneca na xoxota.
Senti cheiro podre de peixe, vinho e carne lançados no corpo, filé bovino costurado no lenço.
Mas tinha os sutis, esses eram pássaros, percursionistas, nipônicos e mágicos.
Incensos, defumadores: de alecrim, arruda e alfazema.
A faculdade é tradicional, suporta outros cursos, mas os alunos este curso em especial tinha suas necessidades encarados como devidos direitos, foi feito um manifesto. Lido frente à retoria, os alunos se vestiram de preto, deitaram ás 18 horas, horário turbulento, entrada do pessoal dos cursos noturnos e frente à entrada principal, dificultou o acesso assim como eram privados pela instituição, diziam “O corpo quer espaço”.

cruzadinha





Tão adulta e sábia, de dia esclarece os pesares do jornal, toca a parte da moeda, vira a debilidade, espreita o embuste e atua no enredo recompensada no afeto.

Tão infantil e precipitada,  voluntária do abandono, acanhada no claro,  peça que forma intervalo, vão, fútil e falso, a noite cai e submetida a vontade divina.

Tão adulta e precipitada, faz a notícia escandalosa, caprichosamente usa a moeda, toma a fraqueza como parte,  engana-se com seus planos, comum acordo reconhece o outro e dorme lúcida e infligida.

Infantil e sábia – pensa ao agir: frívola e fútil!  

terça-feira, 12 de agosto de 2014

pressão



Estado modal que se instala absoluto e relativo. De duas, uma confusão!
Tenaz como pedra, envolta da água expansiva, no fundo está pela densidade.   
Corpo impermeável propulsado por movimento que comunica na missiva.
Superfície de atrito, desgasta-se encadeado.    
Água conduto de pedra, pedra contorno de água: organização inorgânica.

Figura implícita dos sentidos e destacamento do riso na guinada da dor.
Duplo sentido é aquela resposta que isto perguntou.
Domesticação da vitalidade tem seu grito, explosivo no jardim.
Poeira baixa, caminhão pipa, nova é difícil
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