sexta-feira, 10 de abril de 2015

denúncia



Confessou a Suely que largaria todos os títulos e seria cozinheira de madame.
Gosta da posição de confiança, de se conferir incluída aos temperos e sabores do humor.
Via de regra, a produção de seu bom gosto ser experimentado cotidianamente.
Suely, dona de si e mandona de todos, determina o lugar de cada coisa, do tipo que água não mistura com óleo.
Na posição de faxineira, vassoura em punho, corpo relacionado com o cabo, espreita com autoridade de mulher o trabalho dos ajudantes homens, força física.
O que não lhe é próprio, não deixa mexer com ela e habitada em seu território.
No momento de repouso, exaustão física, destrambelha a falar coisa sem importância, urgências do carisma, guarda bem seus segredos.
Á mesa passageira, situações transitórias e impessoais.
Uns manifestam hipóteses, trato que agrega sem responsabilidade. Outros escarafuncham o oásis do real, que bate e apanha.
A confissão feita para Suely ocasionou uma afinação de seu mundo imiscível.
Tava tomada de absurdo:
“Peraí, espera aí, não conta para ninguém, vou lá pegar. Eu guardo tudo que a folgada da Elizângela me escreve. Olha como ela é folgada.”
Suely, robustinha de uniforme, tipo jovem com idade, fala atropelada e ansiosa de incredulidade, força reservada, voltou com as cartas.
Leu não somente as linhas, o título sugerido por "bom dia" e a mensagem, mas o efeito da revelação das vontades.
Cartas iniciadas educadamente, letra legível, português correto.
Dia sim, dia não, revezamento de turno entre Suely e Elizângela.
O conteúdo era controlador, Elizângela dava a mão e tirava, dicas e ameaças.
Por cartas educadas, dava serviço para Suely não fortalecer a amizade com a dupla encarregada.
Parecia revelação da Hannah Arent sobre a banalidade do mal, que os próprios judeus arrebanhavam outros judeus para livrar a sua condição.
É isso, à mesa que se manifestam as vontades por escrito e faladas, ou o silêncio das coisas escusas.