Confessou a Suely que largaria todos os
títulos e seria cozinheira de madame.
Gosta da posição de confiança, de se
conferir incluída aos temperos e sabores do humor.
Via de regra, a produção de seu bom
gosto ser experimentado cotidianamente.
Suely, dona de si e mandona de todos,
determina o lugar de cada coisa, do tipo que água não mistura com
óleo.
Na posição de faxineira, vassoura em
punho, corpo relacionado com o cabo, espreita com autoridade de
mulher o trabalho dos ajudantes homens, força física.
O que não lhe é próprio, não deixa
mexer com ela e habitada em seu território.
No momento de repouso, exaustão
física, destrambelha a falar coisa sem importância, urgências do
carisma, guarda bem seus segredos.
Á mesa passageira, situações
transitórias e impessoais.
Uns manifestam hipóteses, trato que
agrega sem responsabilidade. Outros escarafuncham o oásis do real,
que bate e apanha.
A confissão feita para Suely ocasionou
uma afinação de seu mundo imiscível.
Tava tomada de absurdo:
“Peraí, espera aí, não conta para
ninguém, vou lá pegar. Eu guardo tudo que a folgada da Elizângela
me escreve. Olha como ela é folgada.”
Suely, robustinha de uniforme, tipo
jovem com idade, fala atropelada e ansiosa de incredulidade, força
reservada, voltou com as cartas.
Leu não somente as linhas, o título
sugerido por "bom dia" e a mensagem, mas o efeito da revelação das
vontades.
Cartas iniciadas educadamente, letra
legível, português correto.
Dia sim, dia não, revezamento de turno
entre Suely e Elizângela.
O conteúdo era controlador, Elizângela
dava a mão e tirava, dicas e ameaças.
Por cartas educadas, dava
serviço para Suely não fortalecer a amizade com a dupla
encarregada.
Parecia revelação da Hannah Arent
sobre a banalidade do mal, que os próprios judeus arrebanhavam
outros judeus para livrar a sua condição.
É isso, à mesa que se manifestam as
vontades por escrito e faladas, ou o silêncio das coisas escusas.