terça-feira, 1 de setembro de 2015

o homem ordinário que guardou um segredo


O homem ordinário queimou o jornal, as notícias não mais alteravam seu humor.
O que achava era seu julgamento que não sairia na imprensa, apenas sua venalidade exposta no sofá de sua casa.
Pegou ônibus para trabalhar, andava 7 km até o ponto, a tarifa contava em moedas, porque o dia de amanhã ninguém sabe e o bilhete único era coisa de certeza.
Mantinha um celular que não era smartphone, para continuar conversas mesmo que desagradáveis com outros que o sugavam ou ele os submetia ao humor do dia.
O sol, a chuva, as estações não interferiam na sua empatia e sim a preocupação com os mais próximos que vinham de fato a seu encontro ou propriamente a distância que o preocupava.
Não tinha hora vaga, sua cabeça era um escritório e seu corpo um capataz nem mais do desejo.
Aliás seu corpo tinha todos os sentidos em bom estado, apesar do cansaço permanente.
Se alimentava para quando satisfeito, gozar, às vezes não se alimentava para atravessar dificuldade espiritual.
Mas no balanço da carne e de Deus, ficou saudável.
Sempre quis ser extraordinário na carreira da vida, esperou para ser agraciado por muitos, mas ouviu sua própria voz e sempre criticou em algum grau os que estavam nas luzes da ribalta.
Nunca se escondeu, mesmo no escuro ouviu muitos pensamentos, no claro fez jornada de trabalho.
Mesmo julgado, por quem ama deu resposta por quem ignora ficou calado.
Da missa não sabem a metade, seu segredo está guardado.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

estrada do assombro



Depois de muito percorrer por uma estrada de terra em boas condições mas com o iminente perigo de a qualquer momento um buraco fisgar o veículo e perfurar o filtro do óleo.
O sol desaparece no horizonte em muitas cores, a copa das árvores formam uma silhueta do crepúsculo. Os cachorros andam em duplas, um de grande porte se aproxima do pneu do carro como um vampiro sedento por uma presa de barrocha que satisfaz seu prazer de brincar, uma dentada de lobisomem que contagia um hábito peculiar, mas segue com outro cachorro. Outras duplas de cachorros mais a frente, andam juntos na réstia de dia, momento de coito e reprodução de feras amaldiçoadas..
Nesta transição para noite, a atenção volta ao cruzar qualquer elemento em cima de uma moto com suas capas e roupas sem corpo dentro prontos para lançar um feitiço ou algum carro que surge de vias não preferenciais para desencaminhar meu destino.
Qualquer assalto está previsto no músculo firme que segura a direção.
No poente, vê-se figuras que perseguem alguma concentração de pessoas.
Zumbis baladeiros a procura de substâncias que tiram o juízo.
Um pastor evangélico viciado, passos com propósito de uma fé terrena de encontrar algum conforto entre tantas lamentações e ofício das palavras do Senhor, sobrecarrega sua memória, seu começo e seu fim e quer despistar no sábado à noite.
Na trilha do assombro vejo um fantasma de paletó que não reage a poeira que o carro lança, não tem rosto e nem expressão, apenas uma negritude já no escuro da noite.
Ao chegar na rodovia deserta sem luz de outros veículos, avisto com meu farol galhos caídos e após percorrer um trecho aparece uma bruxa estática no asfalto de cabelos brancos, baixa estatura, expressão presente mas sem percepção.
O que é estranho e causa mistério é o que não é registrado por alguém que não preserva a vida dentro do acostamento, sem atenção à minha passagem colado ao seu lado, seria mortal?
Em um ponto está parado um ônibus, seu motor superou um incêndio mas a carcaça permanece.
Um sujeito vestido de vermelho dá uma cambalhota para sinalizar sua entrada, enquanto trigêmeas ressucitadas brincam em seus vestidos translúcidos pela luz do meu farol e pegam o ônibus de almas para reencarnarem longe deste inóspito e espantado lugar.

terça-feira, 14 de julho de 2015

romance sem sofrimento

Era uma vez um romance que a fantasia era mais importante que a personalidade do par.
A praça, a terra, as árvores, as folhagens, as cores escassas tudo no ar, cenário dos pombinhos.  
Pessoas em mundos circunspectos e explícitas ações de fuga, aparência contrária ao neurótico, compulsivo e ansioso.
O casal desfila a jovialidade com ar elegante,  em um entorno esforçadamente feliz.
Postura, respiração, leveza.
Lado a Lado começa a corroer tudo que significa, o que é? Tantas relações, tantos amparos a multiplicidade ao mesmo tempo junto enquanto o que é o castelo que piso numa fantasia?
Ao sair do parque, entra no automóvel do broto, senta-se no co-piloto com meia-calça colorida da estação inverno, enquanto fica na dúvida se cruza a perna ou não, se fala muito ou se cala, se olha para fora a velocidade de pensamento ou estreita o ambiente e se constrange, se ouve sua cabeça ou o rádio, se música ou notícia. Enquanto tantas distrações que controlar o príncipe.
Daí balança para lá, balança para cá, se olha no espelho e pensa num sorvete de massa.
Lambe lambe o sorvete, muda com olhão, morde a casquinha com os dentes da frente sistematicamente, limpa-se no guardanapo.
O brilho de um olhar que reflete a pergunta da ilusão e a resposta do que é?
Deixa farelos na praça para que venham as aves que vem e que vão como o verão.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

deixar a vez


- O que foi?
- É a segunda vez que me pergunta, não é nada.

O olhar dele.

Lembro de quem não me compra.
A cobrança em ser aceita me traz a casa, me une as mãos.
O coração bate mais forte, sinto nos dedos o pulsar, o corpo se ocupa em preenchimento de vontade.

Antes de dormir é memória e projeção, protejo o que é meu e sofro pelo desapego.
Na passagem da noite calada, conjugo a respiração.
No desencontro do conforto, a cama me absorve como feto.
Já adulta na continuidade do tempo, rupturas rebeldes de sincronia.
Junto quero estar, me pertence a dúvida da entrega sobre o colchão, um pensamento individual não se harmoniza no limiar do outro.
 Manifesto das mãos, pernas que se roçam, cabelos entre os dedos.
Toda entrega a liberdade do outro, doação que o corpo faz tem a alma viajante.
Alma perscruta ser adorada como divindade, de mensagem direcionada à queda ao que o religa.

O olhar dele.

Tanto brilha, grande cômico, meu recôncavo.
Desfilo como imagem, me fragmenta o pensamento sobre sua opinião.

Não pergunto terceira vez, deixo a vez deixar a vez.

E a vez é deixar, um pouco aqui que integra ali, partes no todo.
Separado, penso como junto era inteiro.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

sorte do dia



O lugar certo é aquele que você está, ás vezes está no lugar errado e sempre tem alguém para ajudar.
Ele passou com um saco de lona, desengonçado, negro, negro, camiseta esticada pela barriga.
Caiu pedras da lona, na calçada paulistana.
Abaixou-se para pegá-las e mais pedras caíram.
O dia deu errado, comecei a pegar as pedras, uma a uma, azul, azul.
Quanto mais me aproximava do chão mais pedras pegava de um azul escuro elas refletindo o sol os milhares de pequenos brilhantes.
Catar pedras foi intuitivo para a capacidade de ver luz ao fim do túnel.
Lugar certo ou errado, desorientada ou perdida, o encontro.
Ajudar, ajuda.
Senhor, Senhor que pedras são essas? - É a pedra estrela, toma pra você.
Sorte do dia, “pedra estrela serve para nos fazer acreditar no poder da fé, e lembra-nos que os milagres acontecem e que existe algo que nos protege, mesmo quando não o podemos ver.”

quinta-feira, 21 de maio de 2015

comprar com a vista

Shopping deveria se chamar Looking.

Começo por lojinha de mimos, porcelana com tema da primavera em xícaras e leiteiras; o preço somente confirma meu bom gosto e cheia de auto-estima avanço loja a loja.
O olhar cai para os sapatos masculinos de couro craquelado e como um totem no jardim passo esse portal, olho para os lados vejo barrigas, tudo certo.
Passou vestidos com pedraria, fuzilo, do fundo do prisma sou impulsionada para a loja desejada.
Um casal passa, estou com creme de jenipapo nas mãos, espirro perfume, ganho amostras.
Tenebroso, sombrio, feio, tortuoso, vitrine não me salva e preço alto.
Oba exposição, crianças; putz escada rolante... fui...
Sutiã, hum, bonito na manequim, cores diferentes, sem bojo, renda, nossa que sensual, preço bom, lembro da gaveta, sigo sem entrar.
Sim, fui experimentar óculos, descoberta, Triton óculos....
Me senti num dia de Sol, dormi pensando nele. I will be back.
Entusiasmada entrei numa loja nada a ver, escarafunchei lá no canto a penúltima blusa, várias facilidades de crédito, descontos com cartão da loja mas constatei até onde ia a alegria.
Como que chegando no terminal, Renner, fiz a curva, não era meu destino.
Entrei numa lojinha que adoro, mas ficou cara, mesmo assim sempre tem coisas fofas.
As vendedoras estavam falando de unha descascada, ah, eu com a minha, fim de feira, soube que tinha farmácia um piso abaixo e logo avancei no tricô, mas não, não, foi só um impulso.  
Finalmente cheguei na Forever 21, encontro marcado com a Patty, não estava mais com energia para olhar tudo então algumas coisas olharam para mim, mas só olharam.
Ali nos acessórios é que as coisas acontecem, combinamos de ir ao baile da Disney, fui Lana Del Rey por 5 segundos com girassóis na cabeça.
A Patty queria me mostrar o vestido que usaria em sua formatura. 
Nós antes da faixa, fora da fila que contorna os cacarecos. 
Meninas debruçadas no caixa suscitavam movimento com a música. 
Eu e a Patty mandamos um break, risos.
Levei umas faixas de cabelo.
Olhei para a marca “Forever 21”, a caixa disse: não troca.
Virei em direção a saída e saí com o coração apertado dos unicórnios da idade que não volta mais.  
Mas vi o vestidinho rosa e curto com uma flor, um gargalhada.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

denúncia



Confessou a Suely que largaria todos os títulos e seria cozinheira de madame.
Gosta da posição de confiança, de se conferir incluída aos temperos e sabores do humor.
Via de regra, a produção de seu bom gosto ser experimentado cotidianamente.
Suely, dona de si e mandona de todos, determina o lugar de cada coisa, do tipo que água não mistura com óleo.
Na posição de faxineira, vassoura em punho, corpo relacionado com o cabo, espreita com autoridade de mulher o trabalho dos ajudantes homens, força física.
O que não lhe é próprio, não deixa mexer com ela e habitada em seu território.
No momento de repouso, exaustão física, destrambelha a falar coisa sem importância, urgências do carisma, guarda bem seus segredos.
Á mesa passageira, situações transitórias e impessoais.
Uns manifestam hipóteses, trato que agrega sem responsabilidade. Outros escarafuncham o oásis do real, que bate e apanha.
A confissão feita para Suely ocasionou uma afinação de seu mundo imiscível.
Tava tomada de absurdo:
“Peraí, espera aí, não conta para ninguém, vou lá pegar. Eu guardo tudo que a folgada da Elizângela me escreve. Olha como ela é folgada.”
Suely, robustinha de uniforme, tipo jovem com idade, fala atropelada e ansiosa de incredulidade, força reservada, voltou com as cartas.
Leu não somente as linhas, o título sugerido por "bom dia" e a mensagem, mas o efeito da revelação das vontades.
Cartas iniciadas educadamente, letra legível, português correto.
Dia sim, dia não, revezamento de turno entre Suely e Elizângela.
O conteúdo era controlador, Elizângela dava a mão e tirava, dicas e ameaças.
Por cartas educadas, dava serviço para Suely não fortalecer a amizade com a dupla encarregada.
Parecia revelação da Hannah Arent sobre a banalidade do mal, que os próprios judeus arrebanhavam outros judeus para livrar a sua condição.
É isso, à mesa que se manifestam as vontades por escrito e faladas, ou o silêncio das coisas escusas.

quinta-feira, 26 de março de 2015

virado à paulista no dia errado

Qualquer característica que você tenha, será o motivo de graça para os outros.
Tudo é uma grande comédia, disto também a tragédia.
Rir de si próprio pode evitar o sofrimento, mas é a arrogância de não dar lugar a quem te tira.
Estar na roda tem altos e baixos.
Uma gargalhada insana no vazio arremata a vitória, de uma luta dos pensamentos de relação cruel.
A sua condição está atrelada, a liberdade nada mais é que responder expectativas mesmo absurda.
Da superficialidade adquirimos marcas profundas, estigmas e uma capa de proteção.
De tonta sabe tudo, de mole trabalha muito, de burra é selvagem, de inteligente é tonta.
Quem conhece a si mesmo, sua consciência independe.
Se desloca a seu comando, passos genuínos de aceitação, renúncia e aquisição de utilidades.
Sofrimento põe o dedo na ferida do outro, sem misericórdia aceita a maravilha de Deus.
Ficar no lugar que te colocam ou se colocar no seu lugar, com cinismo, veste a máscara que atua e interpreta a determinação do lugar que deseja onde quaisquer esteja.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

entretenimento na pressão



A concentração de renda é mérito, o problema é o modelo estabelecido.
Dele há imitação, sátira e violência como efeito da voz própria numa iconoclastia.
Enquanto vendedores são premiados, marcham por uma instituição a custa de seu stress em eguer a vida do outro.
Entretenimento é a válvula de escape.
Este promove a expressão criativa, experiência “sensível”que formata conforme classificação.
Todos riem, como hiena ou buscando ar para encher o pulmão, internalizado de humor e vale o risinho de canto de boca com uma trepidada cruel.
Prestação de serviço e entretenimento estão previsto na lei, uma lei que coloca patati patata para os eleitores enquanto são cortesãs.
Vou pro jardim da infância reviver o que é essencial adquirir real conhecimento.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

cada louco com a sua mania


Há regra, conduta e se não cumprir contamos com sua compreensão.
Você lê a placa e conclui que o outro está errado porque não se comportou conforme as regras do ambiente.
Você está certo.
O pressuposto é que o outro entenda, mas você o considera louco e razoavelmente se expõe conforme a placa.
É loucura fazer o louco te entender, um jeito heróico que vive dentro quer excluir a loucura dali.
Você acredita que pode transformar o outro que afastou, mas para isso tem que se aproximar e correr o risco de entrar em sua ficção.
Seria bom se houvesse supervisor, mas estes olhos aqui permanecem atentos aos movimentos e a violência do discurso e justificando-se pela placa do que é inapropriado. Dotado de razão, da qual ele não tem compreensão. O estado dele é violento, sua arma é a papagaiada, seu carisma é a ameaça.
.Para não lavar as mãos encaminha para outro responsável, mas não há responsável que compre a causa.
O ambiente público não comporta loucos, quem comporta são as pessoas.
Nós temos teto e afeto e particularmente somos loucos.
Se ninguém se estende a mão ao zé ninguém, ele tem mais que correr pelado por aí!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

anuncio do fim

A aventura de conhecer seu corpo começou com quedas e choro, esfolados e dor, tombos e susto.
Acompanhado de platéia, mensuram o drama. O que impressiona?
Depende a reação, o dever sentir ao olhar alheio.
Sua sensibilidade era fronteiriça da própria experiência e a intenção de amenizar de outro.
O sangue é drama com convicção. Depois ao saber dos vasos sanguíneos e a incidência sobre algum; coisa que vai vazar mas sem gravidade. Saber de hemorragia e estancar.
A dor aprendeu que não deve doer, os envolvidos não querem sofrer.
Seu corpo responsável pela paz dos outros. Eles querem saúde.
O drama é cena de fatos que desconcertam.
Passou ileso de infância peralta, uns cortes aqui, ralados ali, uma fratura irresponsável.
Fortalecido, supera traumas.
O show de dor acontece quando deve com silêncio aterrorizador e olhar vertiginosamente buscando firmeza.
Sua saúde é sua medida, sua medida é a justiça de Deus.
Achava-se um animal inteligente que precavido das adversidades a manutenção da integridade física era uma ciência.
O acaso era sua ignorância mas a doença fatal era um imprevisto por este corpo que dimensionava a razão, o alcance do conhecimento adquirido, projeções e sonhos e fé abalável pela relatividade.
E aquele que devora a vida, extinguiu o sagrado e o profano em seu corpo, a miséria do conhecimento, a insignificância de seus feitos para quem equalizou o sentir, a substituição de sua utilidade por alguem com vitalidade.
Fundou a autopiedade numa torrente de lagrima e só tinha a sua memoria e a importancia unicamente para si a versão da própria vida.
Os dias já não eram mais, não havia sopro de alegria neste fim anunciado.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

degradante



Na sua porta ás vezes encontra-se cadáveres, ele desvia chutando ratos.
Sua casa foi assaltada por bandidos que perseguiam seu housemate que era envolvido com drogas. 
Levaram a televisão, rádio, computador e hoje é um nômade que busca informação na rua.
Assim de um jeito underground, não usa desodorante, suas calças são furadas, cabelos compridos sempre de gorro ou quando entra em um estabelecimento molha a cabeça.
Tem que responder para o oficial de justiça que visita sua casa para proteger o colega, mas quando pede para levar o cadáver o oficial diz que tem trabalho a fazer.
Ainda tem um telefone que fala diariamente com sua mãe que empresta um dinheiro para arcar com alguns insumos de seu trailler de hot dog.
Sua filha não faz nada, dorme durante o dia no sofá desfiado e quando o pai cobra uma atividade ela diz que vai dormir para não ver sua cara.
O trailler é desenhado de grafite e vem atraindo mais e mais gente e o sucesso desperta a filha.
Ela pega todas as comandas amassadas e jogadas num saco plástico e faz os cálculos de quanto se gasta e quanto ganha e dá sugestões de comprar em atacadões. 
Na calculadora ela digita rapidamente e tem um senso de organização mas tem que se deparar com as baratas no escritório.
O pai aproveita o andamento positivo dos negócios e bebe bem mais.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

natureza



Sua manhã inaugura com um belo copo d'água, banana ou mamão e pouco papo. Rosto pálido contra a luz que vem da janela atrás dele, olhos diminutos e gestos assertivos para cortar finas fatias de queijo branco.
Ao sair deixa para os passarinhos três bananas no canteiro cheio de folhas secas caídas da árvore.
O humor de seu dia depende se a calçada estiver varrida, sem as folhas secas.
No canteiro não é problema, nem preguiça de retirar é porque é aduba a terra.
Caminho seco e investimento na fartura, sua natureza.
Aliás a grama do vizinho sempre é mais verde, e sim, projetos de iluminação, plantas ornamentais, paisagismo. Mas sabe, a luz à noite é prejudicial a planta, a fotossíntese deve ser durante o dia, deixa ela doidinha.
No canteiro dele, senta como bebê para arrancar matinho da grama, fica cheio de si por ter muitas minhocas.
Seus amuletos são a mesa que trabalha e sua esposa.
A mesa antes tinha um enorme cinzeiro e ao final do dia bitucas mil, era o que envolvia sua fé, hoje a cobra ainda fuma mas agora coça a cabeça.
A esposa é muito feminina, de humor lúdico e maldade esportiva. É tímida mas sabe fazer sala.
Quando se arruma é um deslumbre, tem bom gosto. No dia-a-dia é simples e tem jeito pra tudo.
É mãe, daquelas lobas que juntam a matilha e oferece seu amor a todos desprotegidos.
Tem seu jeito que indifere de uma política da boa vizinhança, corre atrás do seu e o marido oferece alguns caprichos a ela que sabe usufruir sem piedade.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

material orgânico e duro



Típico romance literário o início tinha uma determinação, ela foi escolhida por ele.
No início se deu com boas impressões, frequentavam lugares bonitos e charmosos; restaurantes, lanchonetes, entretenimento em salas de cinema para filmes comerciais, presentinhos inesperados para agradar e a comemoração das datas especiais devidamente prestigiados.
Tudo parecia correr bem, ganhou um lindo anel de noivado e marcou data para o casamento.
Traiu seu noivo antes união.
Entre dúvidas dos desejos sua determinação era formar família e assumiu a vida de casada, fiel.
Impecável na limpeza da casa, no horário das refeições, trajava-se elegante todos os dias à mesa do jantar. Tinha faqueiro de prata, louça e seu gosto por toda a casa.
O marido desejado no trabalho só tinha olhos para a esposa modelo. Mantinha o agradinho de quando namorados, presentinhos deixados em cima da cama para enfeitá-la ou a empolgação de ser sorteado com rifas e facilitar o trabalho da esposa do lar. Porém ela o desprezava.
A filha quando criança era seu bichinho de estimação, na adolescência virou sua boneca e conflitos quando adulta.
A traição no período de determinação do casamento era presente. 
Aparecia de camisola transparente no quarto da filha quando esta estava com o namorado.  
Incorporado o desprezo pelo seu marido e a incompreensão de suas confissões à filha um dia vestiu-se elegante com um colar de peŕolas e desapareceu.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

subtrama


Desfazer-me dos cabelos preencheu de ar.
Assim gestos ligeiros pedem calma, algo de brilhante em minha mente, incrível coisa que sofre. Estampa oca de uma representação da feminilidade, um ato de ódio de ser desejada, mas que quer ser usada. E reitera o que era, de novo o que tem pouco. Auto-respeito.
Outras são as extensões ao outro, cabelo de sereia do mar que pisa em rosas brancas está para headfone rosa e o reflexo nas vitrines.
Enquanto impressiono alguém, finjo não me importar, minha resolução se apoia em objetos, imagens e sons e que alcançar como antena, uma rádio cabeça.
Cultuo uma nova cultura enquanto faço a diferença do imaginário.
Ao mesmo tempo que hoje quero ser retardada e doce tenho ansiedade pelo inverno e não ser alvo de moda irônica com efeito sonoro de perdedor num programa de entrevistas japonês, please.
Ir fundo nas sensações: doar e doer, o fragmentado como divisão intrínseca.
No sentido do conjunto de sons minha imagem me dá vergonha por toda coragem.
Sem critica não sou violenta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

solto a voz na estrada


Quando moleca, não tinha aspirações eu era irritante, o equivalente ao efetivo.
Fazia uma voz rouca e grave que ocupava o espaço da casa inteira e o barato do piano executado por minha irmã. No repertório Smoke Gets in Your Eyes, Sattin Doll e All of me.
Era um show de horror, uma performance degradante frente ao instrumento.
Me rebaixava na maneira de interpretar, mas era tão honesto ao meu imaginário aos cantores, Louis Armstrong.
Não pretendia chegar a lugar algum com uma performamce sutil, clássica, afinada era mesmo o momento do escracho, time of my life!
Me lembro na sala ampla soltando o vozeirão, gastando a garganta na rouquidão, o rosto provavelmente distorcido e feio mas seguindo a letra em inglês, no ritmo do piano e por vezes interagindo com o piano, me apoiando numa pausa quando via meu reflexo.
Era meu show, eram as classes da minha irmã que enfeitava de maneira mais grotesca.
Minha mãe não dava muita atenção acho que porque esperava mais beleza, mas pescava sua passagem pela sala e seus olhares incrédulos com a piada.
Mas hoje amo as cantoras americanas Mariah Carey, Christina Aguilera, Jenifer Lopez, Kelly Clarkson ye seus trejeitos de intensidade de voz.
O canto sempre foi um retorno do que era, um ato de autodefinição que amo karaoke, gengibre, já roubei microfone  em roda de samba, cantei em luau, fiz coral na escola e ganhamos o campeonato no Tuca e participei do Coral da Usp.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

consta duas coisas



O gênero é para preencher formulários., quando solicitado você tem a liberdade de se declarar o que quiser. Acho que o preconceito se trata de um pós-conceito acerca da declaração, ou seja o preconceito é uma má combinação do cartão resposta com o juizo formado de quem solicita preencher um formulário.
Engraçado que aquele que sentencia acredita ter um discernimento, mas não passa de uma opinião com fundamento incerto.
A biologia é o estudo dos seres vivos e das leis orgânicas, é sabido das diferenças sexuais do feminino e masculino e o postulado é um fato reconhecido, mas a verdade é indemonstrável.
Isso significa que você pode de fato ser um homem mas se realiza como mulher ou ao contrário, defendo que como ser vivo você inventa os detalhes.
Nasci batizada menina, por minha mãe e meu pai, biologicamente sou do gênero feminino e também no formulário, conforme meus pais realizaram. Porém vejo meus pais e toda a história que venha a contar deles é uma invenção que conto em diferentes versões, a natureza pode ser de uma única maneira mas os eventos são interpretações.
Por isso respeito que a declaração de sexo e raça seja uma invenção e não respeito o preconceito de formulário, porque como ser vivo a verdade é o fato que o indivíduo realiza.
E se nem seus pais tem o domínio da sua concepção, quiça um pesquisador de campo.
Guarde o estranhamento como a melhor das impressões.
E também, preste atenção em como sua mãe tem vocação para marceneira e seu pai é um romântico nas ideias sobre rumos da sociedade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

empuxo

Uma coisa é a vida chata de uma pessoa interessante outra coisa é uma pessoa chata com uma vida interessante.
É comum se interessar pela pessoa prática e esperta, mas o forte sentimento desdenha do automático e da engenhosidade.
É claro que é preciso uma diligência e aplicar um zelo para conseguir algo, chegar em algum lugar mas são os momentos de distração e flutuações que se saboreia a experiência.
No lugar de coisa nenhuma brota qualquer coisa.
Se você está preso a modelos e eficiência você pode ser um chato com auto-estima até por se desvalorizar muito. A pessoa interessante pode ter uma vida chata, sem menção a qualquer fetiche de uma auto-estima desmontada, a relação está muito mais apta a se erguer nela própria porque instaura o agora.
O embarque da relação, é a imagem dá água contornando o corpo e seu limite ser tocado pela água, é uma promessa humana básicas de segurar um espelho gentil ao outro enquanto se exploram.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Não sou uma dessas



Meu pai salienta nossa inteligência, por ter ele como pai me acho fodona.
A beleza de onde depende de recursos deve um meio termo, ele não queria barbies e nos inclinamos para a malacabagem, trapo e farrapo. Quando  mulher ele resmunga nosso destrato com a vaidade.
Mas há uma cobrança natural: da idade, do conhecimento, das cobranças, da busca de realização de sonhos que tem afinidade com o desenvolvimento da criatividade para ganhar dinheiro.
A rebeldia do vestir-se conforme o que dita a moda para adolescentes meninas ou as meninas adolescentes que instauram a moda pelo uso, daquele tempo ignorei keds, calça bailarina e paetê. Alguns cacarecos foram incorporados como sombra de glitter, gargantilha tatuagem e melissinha de plástico.
Agora faz-se presente o humor com as cores, orelhada de corte e custura, tecidos nobres e pobres e o que quer propor com o que veste. 
O orçamento que te coloca no seu estilo e a esperteza de achar pontas de estoque.
Isso significa que passou a fase da rebeldia, que o que importa é ter tudo de básico, peças pretas e brancas para o dia-a-dia e aquilo que dá um ar moderno, descolado com investimento durante o ano achados por aí...
A beleza é puro esforço, bem vestida, bem humorada é bom senso de uma obrigação do convívio.
Quando rola um desânimo de prestar seus investimentos para os outros, tem o grunge, o punk e o estilo pijamas (meu preferido).
Uma coisa desde a adolescência é ser aceito, no meu caso nunca fui estranha, talvez agora na maturidade tenha minhas bizarrices, mas always and forever aquela queda por babacas.
Antes era, se gostássemos dele nos julgavam vadias, o amor platônico confundia-se com uma promiscuidade. 
No sonho de andar de mãos dadas no pátio, no intervalo da escola, no clube após o treinamento quando ele te espera, era confundido o interesse pelo bonito com o forçar a mão: “gosta de mim, é uma dedada que você quer".
Hoje os homens já não vulgarizam, eles são cavalheiros ao tirarem suas calcinhas mas é tipo drive thru, sem sair da zona de conforto usufrui do produto e serviço mas não quer saber as maquinações dela.
Assim a mulher hoje, se veste para outras mulheres, para o conforto de seu corpo e desfruta do prazer que alguns e não todos, os homens, proporcionam. Ela é uma entidade que deve ser adorada, mas na nossa cabeça formada pela adolescência ainda fica resquícios que devemos violar nosso corpo devassadamente. 
Isso não quer dizer que no circunscrito a brincadeira tem liberdade e limite.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

a bossa













A bossa nova narra os sonhos do coração e pensamentos do espírito.
Da aventura ou desventura, a sensibilidade tem efeito de aconchegar o estilhaçado.
O corpo é a morada do espírito, a insensatez é desalmada e só o coração pode entender.
RJ é paisagem do envolvimento: calçadas, ritmo, baía, morros, nostalgia, madrugada.
Mãos dadas numa caminhada, braços soltos no coletivo, pedalinho na lagoa, alegria sobre rodas.
Pés no seco e molhado, pernas trocam, braços abraçam, batuques, mão, sucata.
Idéias vão ao encontro, sonoridade de risos, joelhos dobram na paixão, piano assertivo na solidão povoada.
Garimpo de gritos, amanhecem a vontade, verão e inverno do sentimento, anoitece o sonho.
O corpo se cuida, se comporta, se guarda ao infinito, procura teus sonhos nos meus. 
Ao se usar padece do descompasso do corpo com o sonho, se desengana, sente a verdade e vive a mentir.
Vai sapecar pelas coisas confiadas respondendo a si.

   

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Suspeita, um pé de rosa sumiu


Ontem deixei as chaves em sua mão, na porta da sala e voltei pelo caminho dos vasos.
Tem o quadro para pendurar as chaves.
No dia seguinte você não estava, nem a chave no quadro.
Você não cumpriu meu pedido e comprometeu minha confiança.
Abriu a desconfiança da fechadura do trato.
Foi ontem, mais um dia, hoje é outro; não sei o que te aconteceu: pode ter esquecido de deixar no quadro, quando deixa para depois, importa que deixou com alguém e hoje encontrei,
Resolvido, sorriso no rosto e pulga atrás da orelha.
O papo com elas na brisa fresca, sentadas na praça.
Vimos e nos encantamos com o beija-flor assim na rosa.
Nesta tarde, soube por elas quando a quem reclamou, entre boas e más histórias nossas o levante da suspeita: no meu caminho que tem vasos até a porta azul que abro sumiu um pé de rosa. Elas me disseram se tratar de dois espinhos num pau, mas, que sumiu.
Sou a principal suspeita de tal terrorismo poético.
Queria ser a culpada, mas sei que você cuida das plantas.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

óbvio como a vertigem

Era um labirinto, ele ultrapassou um dos obstáculos com a coragem de desconhecer; foi a passagem para o desencontro.
Antes havia o receio de dar um passo adiante e perder-se do ponto de partida.
Quando ainda se considerava alguém situado na realidade continua de antes foi engolfado para uma nova, fragmentada e interrompida jornada.
Vivia só, a conversar com paredes, decorar trajetos, percorrer de acordo com o entendimento as passagens secretas.
Enquanto antes vivia o mistério agora o mistério consumia sua vida, a dimensão misteriosa da vida tornou-se conhecer o desconhecido e familiarizar-se com os caminhos sem visibilidade ampliada.
O enigma estava na simplicidade de saber o que via; percorrer onde suas pernas o levavam; uma formiga rodeando lascas de pão de ló aos meus olhos na mesa do chá de domingo.
Sua situação era o medo; medo ao chegar e perder a referência do ponto de partida; sua realidade antiga e na busca da saida medo de aceitar sua condição de estar perdido  para encontrar-se fora de si.
O labirinto é a passagem do desconhecido que nos livra dos automatismos, óbvio como a vertigem.