terça-feira, 16 de fevereiro de 2016



Do entrelaçamento. 
Uma perna estica na dobra a outra dobrada se ergue sobre o pé.
Ambas se cruzam, cruzadas.
Caimento gentil do braço que abraça.
As mãos na base se juntam sempre a pegar o equilíbrio.
Pênsil.
Há presilhas na cabeça de cabelo... entrelaçado.

dois




Não estão nítidos na conformidade de liga. 
Cada um não está claro. 
São distintos e turvos. 
Opostos entre si.
A veste e ao que abrange.
Sem limpidez interpõe o corpo à fonte de luz.
Há duas aparências, duas silhuetas.
Há dois espíritos tristes. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

do quarto de domir

Deitada na cama no escuro, com os pés juntos, fortes e firmes penso a próxima situação que os braços teriam essa condição.  
Olho a veneziana aberta, no escuro da noite e do quarto, vejo um pinheiro muito alto e frondoso ao longe. Ouço um pássaro que faz barulho de pato, me sinto acalentada por meu pai. 
Olho por muito tempo sem pensar em nada, apenas na harmonia de ser uma pessoa de inverno. 
Ao mesmo tempo que os calores dos que se encontram facilitam as pessoas de verão, estou ali frustrada por querer mudar minha natureza e transito por entre os livros bobos pela madrugada. 
O peso do corpo já é o suficiente mas os pesares do psicológico são invitáveis. Armo arapucas, dou leitura do que não há, encerro o que me é próprio e, portanto, ler seja a mais inútil necessidade para continuar neste ciclo até a exaustão e dormir. 
Mas sempre há o dia seguinte, enquanto ele não chega, estou na madrugada existencial. 
Minha porta se abre, entra minha mãe com um rosto pálido e olhos minúsculos; doida de pedra nada quebra seu barato: fala que viu o farol do meu carro que eu havia saído, solto uma gargalhada pelo surto de sua afirmação, que não era real. Perdurou até o amanhecer quando recobramos os parafusos em queda livre.
Estou em falta com meu espaço, com minha diversidade de itens.
No quarto tudo acumulado, trocas de roupa na cadeira, bolsas e sacolas embaixo da penteadeira, prospectos de teatro, receitas, cadernos, livros de colorir na mesa de trabalho, faixas de cabelos, caixas porta treco e os treco fora dela em cima da penteadeira junto de meus objetos decorativos. Puxa aqui uma coisa e você se vê a voltas refazendo a bagunça, decidi jogar o lixo no lixo. 
Alguma lógica que exclui, desapega faz olhar suas coisas com mais serventia e portanto a lógica funciona. 
Tudo vai para o lugar e o pertencimento móvel ganha autonomia. 

  



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

pega nada, dona do carnaval

Passou anos no vai e vem, vem e vai, parte e cola, fica um pouquinho, de pouquinho em pouquinho, ficou bastante. 

Quer tudo e nada mais têm. 

O nada, a memória, do vivido, um rosto e olhar lânguido, não perde a imagem do amor, tão instável, fez paixão. 

Amorosamente perdoou, apaixonadamente errou. 

Partiu o carinho do amor sem maturidade, se lançou no peito jovem, beijos elegantes de um carnaval de pele mulata, negra e branca. 

Beijou ele, depois ele lá, ela acolá e mais uma vontade errada. 

Pega pega, esconde esconde, enrosca, desfaz. 

Entorpecida, se nubla de particularidades. 

Vê o povo de corpo da América, Europa e África. 

Movimento, gesto, máscara, brilho: todos saltam aos olhos fechados mais fáceis de transfigurar no centro do rosto o sorriso aberto convidativo em lágrimas românticas face ao que exclui, ao que ergue a fantasia, o que espera e o que não espera, como o bloco que fica parado ao passo que não acompanha a música. 

Emoção flui em idiomas do mundo como uma onda no mar de Lulu Santos, junta zona norte e zona sul banhado pelo litoral, não leva nada e circunda o corpo-carnaval que se refresca no Rio 40 graus. 

Quarta-feira de cinzas só sabe de mais nada, a memória do vivido e do jovem.