sexta-feira, 29 de maio de 2015

deixar a vez


- O que foi?
- É a segunda vez que me pergunta, não é nada.

O olhar dele.

Lembro de quem não me compra.
A cobrança em ser aceita me traz a casa, me une as mãos.
O coração bate mais forte, sinto nos dedos o pulsar, o corpo se ocupa em preenchimento de vontade.

Antes de dormir é memória e projeção, protejo o que é meu e sofro pelo desapego.
Na passagem da noite calada, conjugo a respiração.
No desencontro do conforto, a cama me absorve como feto.
Já adulta na continuidade do tempo, rupturas rebeldes de sincronia.
Junto quero estar, me pertence a dúvida da entrega sobre o colchão, um pensamento individual não se harmoniza no limiar do outro.
 Manifesto das mãos, pernas que se roçam, cabelos entre os dedos.
Toda entrega a liberdade do outro, doação que o corpo faz tem a alma viajante.
Alma perscruta ser adorada como divindade, de mensagem direcionada à queda ao que o religa.

O olhar dele.

Tanto brilha, grande cômico, meu recôncavo.
Desfilo como imagem, me fragmenta o pensamento sobre sua opinião.

Não pergunto terceira vez, deixo a vez deixar a vez.

E a vez é deixar, um pouco aqui que integra ali, partes no todo.
Separado, penso como junto era inteiro.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

sorte do dia



O lugar certo é aquele que você está, ás vezes está no lugar errado e sempre tem alguém para ajudar.
Ele passou com um saco de lona, desengonçado, negro, negro, camiseta esticada pela barriga.
Caiu pedras da lona, na calçada paulistana.
Abaixou-se para pegá-las e mais pedras caíram.
O dia deu errado, comecei a pegar as pedras, uma a uma, azul, azul.
Quanto mais me aproximava do chão mais pedras pegava de um azul escuro elas refletindo o sol os milhares de pequenos brilhantes.
Catar pedras foi intuitivo para a capacidade de ver luz ao fim do túnel.
Lugar certo ou errado, desorientada ou perdida, o encontro.
Ajudar, ajuda.
Senhor, Senhor que pedras são essas? - É a pedra estrela, toma pra você.
Sorte do dia, “pedra estrela serve para nos fazer acreditar no poder da fé, e lembra-nos que os milagres acontecem e que existe algo que nos protege, mesmo quando não o podemos ver.”

quinta-feira, 21 de maio de 2015

comprar com a vista

Shopping deveria se chamar Looking.

Começo por lojinha de mimos, porcelana com tema da primavera em xícaras e leiteiras; o preço somente confirma meu bom gosto e cheia de auto-estima avanço loja a loja.
O olhar cai para os sapatos masculinos de couro craquelado e como um totem no jardim passo esse portal, olho para os lados vejo barrigas, tudo certo.
Passou vestidos com pedraria, fuzilo, do fundo do prisma sou impulsionada para a loja desejada.
Um casal passa, estou com creme de jenipapo nas mãos, espirro perfume, ganho amostras.
Tenebroso, sombrio, feio, tortuoso, vitrine não me salva e preço alto.
Oba exposição, crianças; putz escada rolante... fui...
Sutiã, hum, bonito na manequim, cores diferentes, sem bojo, renda, nossa que sensual, preço bom, lembro da gaveta, sigo sem entrar.
Sim, fui experimentar óculos, descoberta, Triton óculos....
Me senti num dia de Sol, dormi pensando nele. I will be back.
Entusiasmada entrei numa loja nada a ver, escarafunchei lá no canto a penúltima blusa, várias facilidades de crédito, descontos com cartão da loja mas constatei até onde ia a alegria.
Como que chegando no terminal, Renner, fiz a curva, não era meu destino.
Entrei numa lojinha que adoro, mas ficou cara, mesmo assim sempre tem coisas fofas.
As vendedoras estavam falando de unha descascada, ah, eu com a minha, fim de feira, soube que tinha farmácia um piso abaixo e logo avancei no tricô, mas não, não, foi só um impulso.  
Finalmente cheguei na Forever 21, encontro marcado com a Patty, não estava mais com energia para olhar tudo então algumas coisas olharam para mim, mas só olharam.
Ali nos acessórios é que as coisas acontecem, combinamos de ir ao baile da Disney, fui Lana Del Rey por 5 segundos com girassóis na cabeça.
A Patty queria me mostrar o vestido que usaria em sua formatura. 
Nós antes da faixa, fora da fila que contorna os cacarecos. 
Meninas debruçadas no caixa suscitavam movimento com a música. 
Eu e a Patty mandamos um break, risos.
Levei umas faixas de cabelo.
Olhei para a marca “Forever 21”, a caixa disse: não troca.
Virei em direção a saída e saí com o coração apertado dos unicórnios da idade que não volta mais.  
Mas vi o vestidinho rosa e curto com uma flor, um gargalhada.