quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Ficções

A passagem do tempo espanta alguns pelo aspecto outros por preocupação das leituras.

Os novos romances serão paginados pelo desequilíbrio que confessa a herança paterna ao vingar-se do amante, sucumbe a discórdia ou estreita uma luta junto. Mas sempre olhará para os sapatos velhos.
As novas amizades serão paginadas de compreensão imediata, poucas expressões intrínsecas,  pêndulo de interesse levado, paragem de confiança que no fundo sempre falta.
Os filhos serão paginados na mais linda história da vida, com enormes, fartos e potentes peitos, água que banha, meleca, barulho, cheiro traz aroma de cada estação e de natureza contemplativa para a vida.
Casamento uma resistência que dissolve os próprios padrões para cuidar de empregadas e servir jantares a clientes. Magia da maternidade por leitura de justiça social, legalidade, civilidade, educação, ciúmes em troca de prateleiras na casa charmosa com boa iluminação.

A passagem do tempo não espanta, quer ser uma velha enrugada que assusta crianças, jogar baralho e fumar com os homens. Ou resguadar-se no tricot, crochê, ponto cruz, pantufas, pijamas. Até quem sabe embolorar-se lendo ou pegar uma pasta de elástico no escritório e etiqueta-la: Ficções.  
Acredita sobretudo na bem-aventurança indissociável da escrita, ácido que dissolve padrões.

Sem defesa contra o lixo sentimentalista das mulheres de Atenas, produz subtexto contraventor. Irrigando vasos venais de projetos, com datas e prazos, comunicado intercalado com colega ao provocarem momento, atenuando, precipitando ou participando de uma idéia comum. Cabides e mancebos no Conjunto Nacional, trocar de roupa para cada situação em São Paulo de todas as estações em uma, de uma desarmonia universal do verão, de tribos e funções na Avenida Paulista. Avenida Paulista deprimido e só, com olhar de marca passo, Avenida Paulista de visita comercial, captação de recurso e discurso, Avenida Paulista de teatro, cinema, livros e café.
Caminha que a vida te encontra. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Vamos iludidos negar a verdade


É uma senhora de idade, sem atrativos? Bem, são os bens. Extravagância! 
Pode se maquiar mesmo com a visão em decréscimo. Os associados ao clube vão gostar da maças do rosto carmim e batom, o rímel fica ótimo como máscara vale um pingo negro abaixo dos olhos. Sentada com seu físico que em casa pediriam para ligar a televisão. Na piscina maquiada, com maiô floral e chapéu exuberante cai bem um coquetel de frutas com guarda-chuva de papel.
É fumante na cidade de tinta no chão para dividir os de dentro e os de fora? Não seja rebelde e desavisada para enfrentar o inspetor da lei e levar bronca, é carência. Seja radical, acenda um cigarro embaixo do viaduto. Você simulará o simulado. Qualquer engano de substância é inocência e quem vai pagar a prenda é o curioso da cidade limpa.
Quer ficar inativo? Liga a televisão no Jornal Nacional ou Globo News fique paralisado na frente na tela. Reconheça-se na mídia e deixe de viver ou submeta-se inquieto e observe a atividade produtora.
Ao invés de ler filosofia, filosofize a vida e fique especulando. Fique dentro de você procurando o céu de um fim de tarde que não acaba.
Quer ficar isolado? Vá para uma multidão de isolados. Sair para dirigir, correr, academia, bicicleta, patins, skate uma atividade que escapa a reconsideração.
Sonhe com Iphone, utensílios domésticos para cozinha, ar condicionado, roupa de marca.
Seja moderno, seja arcaico: chore pelas leis fatais. Instantaneamente após ver o comercial a manifestação superficial mais esmagadora.

Com a televisão e a internet ligada poderemos envelhecer!

domingo, 8 de janeiro de 2017

põe óculos escuros?

Põe óculos escuros. Pronto, ninguém detectou o constrangimento.
  
A calcinha vive adiante a entrar no bumbum. Anda e conversa, desenterra-a discretamente. Ao lado de quem conversa, uma pernada diferente. Pessoas na frente, logo, pessoas atrás. Quer viver num canto. Põe óculos?
No restaurante depois do jantar escolhido a dedo cada prato que compõe seu banquete. Vem a conta com a máquina de cartão. Tudo normal, crédito ou débito? Por dentro, na sorte por favor, crédito. Não passa. Faz tipo de indignado, porque já está surpreso. Faz tipo de rico, porque já está pobre. Faz tipo de garantia, dá garantia. Põe óculos?
Caminhando pelos bares bonitos da cidade, distraído, cai num espelho d’água. Todos olham e ele pede aplausos. Senta ao bar pede uma garrafa de whyski. 
Embriagado anda pela avenida de carro e é parado pela viatura de polícia. Olha mareado os policiais, se apoia na viatura não entra no seu carro por não haver ordem, desencosta do carro e cambaleia para frente da autoridade, recua e justifica o menu do jantar. Pensa em declarar dinheiro ou enfiar na cintura do policial para sair. Quer alguém que desenterrasse a calcinha do bumbum fora do canto. Põe óculos escuros...

sábado, 7 de janeiro de 2017

Abacaxi

Ele é ação, atividade contínua e recorrente. Gasta energia e consome energia. Trabalha, sente fome,  mexe muito as mãos no trabalho e depois quebra nozes. Estica o dia inteiro, fazendo idéias vingarem materialmente, quando sente sono sente culpa, não relaxa. As palavras são concatenados raciocínios, as conversas permeiam o fato da palavra como ponto de partida porém um aspecto autoritário rechaça o que foge a sua pauta, chegando a lugar nenhum de especificidade, simetria e cerco determinado por seu escopo. Uma intenção generosa vem a ser o pandemônio. Negar o que foi dito por ele é a maior agressão, costurar a regra é experimental, enfrentar é o delírio. É muito cálcio, muito tutano, envergadura para fazer engolir barbaridades se quer ser levado a sério.
Parece ser o último da fila, o obsoleto, vencido, ultrapassado mas entre a atividade das idéias materializadas e o raciocínio concatenado, ele humilha, grosseiramente, bruto e rude defendendo a educação, a cultura e a cortesia.  
O seu fôlego aguenta uma extensão de frases construídas, é muita saliva gasta para acachapar em cuidado. Nenhuma virtude ou correção tem alívio, escolho o silêncio. Uma conversa tem força de promessa, compromisso é religião. Heresia é pular o passo-a-passo do sonho,  brincadeira está num tempo pretérito.
Há um tiro que atravessa meu coração, há um ácido que me deforma, há um amargo licor depois da refeição, há uma saúde corrosiva, há uma sátira designada.
O doce está lá, seja num aquoso olhar que nem se olha ou na metáfora, eu caçula como a parte inferior do abacaxi, a mais docinha.

Resolvi que sou um problema e os outros que resolvam. Assim, chata.
Já adivinho seu julgamento, pode olhar, tentar enquadrar, por na linha. Jamais farei charme de contrariar, faço na convenção. Sou de fora para ser de dentro. Sei mais de você do que de mim. Respeitar os limites encarcera uma criança. É o tempo de tudo que aconteceu estar previsto na máscara curva arqueada para cima ou para baixo. Não quero nada de ruim, nem de errado, um dragão; inexistente.
Sonhos e pesadelos, um cachorro do Tibet que pula durante a meditação é atropelado quando equilibra as energias da casa. Não machuca mas assusta.
Movimentos, circulação, timer no ar condicionado.

Deixar o verão para mais tarde...considerar se é cedo ou tarde.
Você se opõe, você contesta é ato de contradição. Por incoerência, atos sucessivos ditos.