quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cantar no chuveiro

No box, cercado de vidro e azulejo, a intenção é trincar.
Fechado num recipiente molhado, escorrega tons em meio ao translúcido.
Solta uma canção exagerada, escandalosa e calorosa assim como o bafio da água quente.
Janelas são expressões do íntimo, solta do revestimento do box o interior do ser.
Se enxagua entre ídolos, deixa escoar a voz, encontra e perde afinação.
Ao se lavar gira, vira e do centro do diafragma, contrai e expressa descontraido.
Se mostra escondido, uma sintonia com si que escapa pela beiras da porta do banheiro.
No espelho embaçado, que não reflete, segue a canção sem crítica.
Gargarejo, boca do palco de platéia invisível, sensação de astro.
Performance sensacional regulada pela torneira, enquanto derrama água verte o show.

Nenhum comentário: