Ah tem dó.
Ele manca na minha frente mas
atravessando a passarela por cima da avenida seu passo é esperto.
Seu olho é azul e vermelho é a cor que condena.
Ele quer saber se estamos no inverno,
ah tem dó, ele pensa na estação.
Ele é bonito, ele quer saber o que é
carisma, ah tem dó.
Ele me oferece cachaça, um bêbado
sozinho, ah tem dó.
Ele perdeu a guarda da filha, a
ex-mulher não deixa vê-la, tem dó dela.
Ele vai falar com o ex-patrão, não
sabe se vai reaver seu caminhão.
Ah tem dó.
Ele diz que vai fazer a barba, diz que
vai ficar bonito amanhã e sorri e a chama de vossa alteza.
Ele diz que ama sua inteligência,
ele a ama a cada dia que passa, ele ama sua beleza.
Ela empresta um livro da Zibia
Gasparetto, O amor venceu.
Ele diz que vai ler e anotar, ele conta
todo dia o que está acontecendo no livro, o nome dos personagens e o
que fizeram.
Ela imagina ele sozinho lendo, com a perda do amor.
Cada dia que passa se declara seu amor
alto e bom som e ela ri descontroladamente.
Cada dia que passa ela evita olhar para
ele, ela tem asco de seus pelos.
Ele fica bem de amarelo mas é a mesma
camiseta todos os dias.
Ela também é carente mas entregar o
ouro quando nem ouro há, fica sem jogo.
Ele não quer saber se ela se incomoda
com sua mancada falsa, com suas perguntas burras, com seu alcoolismo,
com sua falta de estrutura.
Seu amor egoísta só se preocupa com o
estandarte do ridículo e ela ri descontroladamente.
Ela só pode
emprestar um livro espírita e ouvir suas histórias.
Cada reação positiva ou negativa a
ele, o amor dele cresce, ela respeita a chama acessa mas ele precisa
dar ignição na vida dele.
Ele não prestigia ela e ele fala por
si só.
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