terça-feira, 26 de abril de 2016

passeio passional

Caminhamos pelo canteiro central da Av. Sumaré
Lana fala inocente de seu pai, da separação, de doenças, do machismo, da depressão, do suicídio....
Que Raiva. Dela? Não sei. Que Raiva.
A bicicleta quase me atropela, tem faixa de ir e de voltar. A ciclista pedalando, na faixa de ciclistas. Mas tem faixa de ir e de voltar, ela estava na contramão ultrapassando um pedestre. 
Todos estão errados, é culpa do pedestre que a ciclista desviou ou culpa dela desviar do pedestre?Ultrapassando pela direita. Eu estava na sua direita, quando ela ultrapassou. mas
Mas eu estava na faixa de ciclista. Porra! Trocamos de lado, eu e a Lana.
E continuamos a caminhar. E cada assunto fico por dentro como se fosse meu, mas ela falava de si, numa narrativa com entorno e eu era apenas uma ouvinte, até que a bicicleta quase me atropelou.
Culpa de Lana? Se me contou de inocência, de seu pai, da separação, de doenças, do machismo, da depressão, do suicídio. Tô aqui, tô aqui.....e vem a bicicleta e a culpa ainda é minha. Que raiva! 
De quem? Da inocência dela. Sou sabida mas, se me deixa falar, ocorrem inocências por exemplo: processar a ciclista na possibilidade do atropelamento.
É um passeio e com Lana é nuclear. Processar uma ciclista na faixa de ciclistas é inocência. 
Também quero atropelar...
Diz da separação, não sei, ela sim. Machista, o pai que a chamava de puta, ele deprimiu, se viciou em remédio e botou fogo nele mesmo.
Tudo bem comigo pensando assim, também tenho origem e das minhas penas minhas pernas andam, elas que carregam meu peso, meu futuro, meu esquecimento e sofrimento.
O que é essa vida, o que posso fazer? Estou junto. E a invenção? Eu acredito em tudo, mas minha duvida é a Raiva! 
Porque essa história não me pertence, se ouço também é parte minha....não está escrita, estou em pé, caminhando.
Minha revolta não era com essa história, era uma revolta que não podemos fazer nada pela história do outro e quanto mais o outro conta sua história mais a parte fica, fica a sua parte, mesmo que alguém do seu lado morra atropelado.
Quem sofre mais merece mais? O sofrimento dela provoca o meu sofrimento e não é piedade, porque a história dela tem cerco. 
Agora, trocado os lados com as árvores a minha direita, depois do susto. 
Lana diz que foi uma londrina na vida passada, porque gosta do fog, esse nublado da cidade de nuvens cinzas contínuas cobrindo o fundo do céu.
Essa é a cena e a cena teve uma história que me gerou raiva e virou rancor.
As sombras das árvores no chão foi a superfície traidora que ela me distraiu ao lembrar de Jardim das Cerejeiras.
Dançamos com nossa sombra, fiquei puta, Butô não é estereótipo, não é mascara.
Quase nos aproximando da ponte da Estação Sumaré do Metrô, finalmente existi no pretexto.
Depois da raiva do cerco de sua história familiar, por pouco não ser esmagada por rodas de bicicleta e a interpretação superficial das sombras. 
Um pouco de minha alma e meu espírito apesar de sórdido, solitário e das trevas, do meu interior; exemplifiquei o butô. 
Um japonês ultrapassou a gente e sorriu.
Me senti em casa na Avenida Sumaré.
Como praia quando chega em sua ponta, cada uma abraçou uma árvore...resposta?
Voltamos em guerra nuclear, íntima, pública, profissional. 
Homens bonitos nos paqueraram.







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